Rabugenta do calor*

O verão não acaba. Eu sei que ele não durará para sempre. Mas o fim está demorando muito. Mais do que namorado que vai te buscar na porta de casa, ou noiva no dia do casamento. Nesse verão, especialmente, não houve quem não falasse do calor. Até quem gosta desses dias escaldantes, que dão preguiça e desânimo, achou que houve um excesso. Deus não foi brasileiro. Eu, que não gosto nem do verão suportável, desejei “hibernar” em uma casa com ar condicionado no alto da montanha.

Mas a realidade é dura. Minha casa não tem ar condicionado, não fica no alto da montanha e tive que encarar o ventilador. Dormir com aquele vento na cara ajuda, mas não descansa. Só serve para dar mais saudade do cobertor e do edredom. Suco, sorvete, açaí, gelatina. Tudo é uma tentativa de refrescar, amenizar o calor, mas, na verdade, o desejo é de chocolate quente, chá e sopa.

Sim, eu sou uma adoradora do inverno e uma rabugenta do calor. Assumo essa fraqueza. Não consigo esconder o desalento, a preguiça, o ódio dos dias quentes. Tudo que eu tenho a fazer precisa esperar o verão passar. Por mim, os termômetros podiam parar sempre nos 23 ºC. Nunca, jamais, em tempo algum, chegar aos 30 ºC.

O calor parece que corrói as forças, os nervos, a paciência. Junto com o sol, que deixa o dia lindo, quase animador, vem o maior desânimo do mundo. Preguiça de andar um quarteirão para chegar a academia, preguiça de andar um quarteirão para ir almoçar, preguiça de ir ao açougue, preguiça de dormir, preguiça até de ir à sorveteria.

Dormir, aliás, é o maior dos martírios. Sem roupa, sem lençol, sem se mexer. Qualquer movimento, mesmo que seja simplesmente virar na cama, já causa calores insuportáveis. O tal dormir de conchinha, que tanta gente gosta, nem em sonho. Só de imaginar alguém encostado em mim nesse calor, eu suo. Meu suor é um choro de desespero. Um passo na feira e o lugar onde os óculos encontram o nariz está molhado. Para piorar, tem que economizar água e viver com a sombra da falta dela que, com certeza, vai acontecer no meu querido inverno.

O frio é elegante, é clássico, é calmo. Não tem Carnaval nem Réveillon. Tem viagem para as montanhas, encontros com amigos regado a vinho e queijo, muito chocolate quente, livros debaixo das cobertas e, aí sim, ficar aquele tempinho abraçado antes de dormir. O inverno é amigo do abraço. O inverno é o “confort food” das estações do ano. Ah inverno! Vem logo que estou pronta para te abraçar!

* O título eu “roubei” desse texto, do Blog Sem Reservas.